quarta-feira, 5 de março de 2014

E o lixo ...

Grande artigo do jornalista André Trigueiro, que foca se trabalho em bons exemplos para um mundo sustentável. Tanto na GlooNews, quando em seu blog, sempre apresenta do trabalhos excelentes sobre o meio ambiente. 

Segue artigo postado em seu blog hj ...
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Lixo que te quero longe

É atávica e ancestral a rejeição que temos ao lixo e aos excrementos.
Uma herança do reino animal, onde o instinto de sobrevivência parece soar um alarme toda vez que nos aproximamos de algo que ameaça nossa saúde e integridade.
É natural que seja assim.
Ainda que tantos seres humanos ainda vivam perigosamente em áreas saturadas de lixo e esgoto – não por opção, que fique claro – esta é uma aberração que afronta a civilização e deveria constranger os governantes.
A paralisação dos garis no Rio de Janeiro durante o carnaval expõe várias questões que extrapolam a tumultuada negociação por melhores salários de uma categoria historicamente mal remunerada e alvo de preconceitos em todo o país.
Pode-se dizer que o não recolhimento dos resíduos por alguns poucos dias na segunda maior cidade do Brasil inspira várias reflexões importantes e oportunas para todos nós
Será que apenas os garis têm a nobre função de zelar pela limpeza pública? De que maneira tanto lixo foi parar nas ruas? Qual a nossa responsabilidade nessa história?
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, regulamentada em 2010 e com plena implementação prevista para este ano, estabelece que essa responsabilidade é compartilhada, ou seja, começa com a indústria que gera o produto (no caso do carnaval, boa parte dos resíduos encontrada nas ruas foi de material de propaganda, embalagens e latinhas dos patrocinadores do evento), alcança o varejista que comercializa o produto, o consumidor que faz uso do produto e a Prefeitura (a quem cabe institucionalmente a função de organizar as rotinas da coleta/transporte e destinação final do lixo). Em resumo: o gari é fundamental, mas não está sozinho nessa história.
Já reparou que greve de gari costuma durar menos do que as paralisações de médicos, professores e outras categorias profissionais? A razão é simples: ninguém suporta tanto lixo acumulado nas ruas. O nível de impaciência é proporcional ao desconforto causado pelos fortes odores, pelo volume de moscas, baratas e ratos, e materiais de diferentes tamanhos e consistências espalhados pelo vento ou pela chuva.
Infelizmente, é forçoso reconhecer que só quando os garis cruzam os braços a cidade se dá conta compulsoriamente do espetacular volume de lixo que gera todos os dias. Tangibiliza-se o que parecia invisível. Valoriza-se o que parecia desimportante. Enquanto o lixo é coletado e levado para longe, todos nos refugiamos nos efeitos inebriantes de uma cidade onde a montanha de resíduos (no caso do Rio de Janeiro são aproximadamente 10 mil toneladas de lixo por dia) não é uma questão relevante. Quando interrompe-se a coleta (pelo motivo que for) aquele alarme ancestral soa alto o suficiente para gerar imensa repulsa. Para uma cidade como o Rio de Janeiro onde tantos ainda jogam lixo displicentemente nas ruas, onde o desperdício de materiais é acintoso, onde a taxa de coleta seletiva é medíocre, onde o consumismo é voraz, a percepção do resultado de tudo isso é (ou deveria ser) pedagógica.
Foto: Matheus Rodrigues/ G1

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